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Acesso desigual a ferramentas tecnológicas ajuda a aprofundar disparidades sociais, afirma Flávio Dino

05/09/2025

Ministro do STF entende ser necessário cuidado diante da inevitabilidade tecnológica, para estabelecer fronteiras entre uso e abuso - Foto: Daniele Fernandes/TCEMG
O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, foi o convidado especial para a palestra de encerramento do 16º Congresso Nacional do Ministério Público de Contas, nesta sexta-feira (5/9), na sede do Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCEMG). Na oportunidade, Dino levou ao público reflexões sobre "Direito e Tecnologia".
 
"As práticas abusivas não estão apenas nesse fenômeno mundial do extremismo ou do ódio. Vivemos um quadro histórico em que o ódio não só é admitido, como é um bom negócio", pontuou Dino, citando o exemplo da produção de vídeos com conteúdo falso. "A insensatez não é apenas vigente, ela é valorizada e transformada em dinheiro em favor de quem é insensato. E isso conduz, obviamente, a toda sorte de abusos", afirmou.
 
Flávio Dino questionou a naturalização de práticas como corrupção, improbidade administrativa, desvios éticos e outros problemas que, diariamente, desafiam a conduta do STF e incidem sobre seus deveres como guardiães da democracia e da eficiência administrativa.
 
"Em circunstâncias limítrofes, nós temos que lembrar que a democracia admite quase tudo, menos, obviamente, aqueles que não têm compromisso com ela", reforçou. "Somos chamados a exercer com firmeza, com prudência, moderação o nosso papel no que se refere à interpretação e aplicação do direito positivado", disse o ministro.
 
Desafios da tecnologia
 
Para Dino, a inevitabilidade tecnológica contrasta com a cultura humanista e, mesmo havendo um lado bom com a inovação, existe também uma preocupação para que noções de consciência e responsabilidade não sejam, tendencialmente, "substituídas por uma espécie de determinismo algorítmico".
 
"Se o tecnodeterminismo for elevado à enésima potência, muito em breve vocês vão ser chamados a impedir a aplicação de inovações tecnológicas na administração pública", ponderou, citando a possibilidade de violação de princípios essenciais na administração pública. "E os senhores não vão conseguir julgar, imputar a responsabilidade em uma licitação sequer, porque ela terá sido feita pela inteligência artificial", completou.
 
O ministro do STF reiterou, contudo, que não é contra a tecnologia, mas entende ser necessário cuidado, justamente para estabelecer fronteiras entre uso e abuso.
 
"Temos procurado enfrentar esses desafios, mesmo à custa de incompreensões", sinalizou. "A questão, amigos, é que a tecnologia traz problemas administrativos e mais: pode agudizar o domínio de poucos sobre muitos. Porque o acesso à tecnologia é assimétrico e, portanto, o fosso social se aprofunda", explicou. "Esse é um problema institucional que nos cabe", complementou.
 
Consensualismo e IA
 
A palestra magna do ministro foi o último momento do congresso que, durante três dias, promoveu painéis e discussões estratégicas a partir do eixo central "Consensualismo e Inteligência Artificial no Controle Externo".
 
Ao longo da programação, os participantes acompanharam apresentações da ministra substituta do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Edilene Lôbo, do ministro aposentado do STF, Carlos Ayres Britto, entre outros destaques.
 
Em sua mensagem de encerramento, a presidente do Conselho Nacional de Procuradores-Gerais de Contas (CNPGC), procuradora-geral Cristina Machado, ressaltou o trabalho conjunto para construção de um controle externo mais moderno e efetivo.
 
"É impossível não refletirmos sobre a importância deste congresso comemorativo de seu papel no fortalecimento das instituições públicas e nos avanços da democracia brasileira", disse. "Que esses 40 anos (da Ampcon) nos inspirem a continuar caminhando com coragem e esperança para que os próximos capítulos sejam ainda mais marcados pela integridade, pela justiça e pelo compromisso com a sociedade", concluiu.
 
O conselheiro-presidente do TCEMG, Durval Ângelo, reforçou o empenho das instituições em busca de um mesmo propósito.
 
"Temos funções específicas estabelecidas na Constituição, mas o objetivo final que nós temos é um só: a defesa da sociedade", destacou. "Esse encontro muito nos engrandece e todos só têm a ganhar com essa ação coordenada e integrada por todas as autoridades do alto controle e também pelos servidores das auditorias", acrescentou.
 
Na sequência, o procurador-geral do Ministério Público de Contas (MPC) e presidente da Associação Nacional do Ministério Público de Contas (Ampcon), Marcílio Barenco, fechou os trabalhos, ressaltando os participantes e os frutos do congresso.
 
"Agradeço aos colegas do Brasil inteiro que atenderam ao chamamento. Tivemos a representação das 27 unidades da federação", enfatizou. "Obrigado também a todos os atores desse processo, que emprestaram sua inteligência natural para que esse encontro fosse realizado", finalizou Barenco, fazendo menção também à presidência do TCEMG e seu espírito público para viabilizar o congresso comemorativo pelos 40 anos da Ampcon.
 

Da esq. para dir.: O presidente do TJMG, desembargador Luiz Carlos Corrêa Junior; o procurador-geral do MPC, Marcílio Barenco; o ministro do STF Flávio Dino; a presidente do CNPGC, procuradora-geral Cristina Machado; e o conselheiro-presidente do TCEMG, Durval Ângelo - Foto: Daniele Fernandes/TCEMG