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Cuidar da criança que move o mundo

10/10/2025

A lembrança mais antiga que guardo é de um balde de pipoca. Tinha dois anos e, a cada jogo do Brasil na Copa do Mundo de 1986, ele era meu tesouro: pegava-o com as duas mãos e o entregava à mamãe, como se fosse um ritual sagrado. Lembro-me também de arremessar canequinhas de plástico pela janela para que meus pais as contassem lá embaixo no quintal — jogo bobo que hoje faria pouco sentido, mas que naquela época era diversão pura.

Tardes de pique-esconde pelas ruas do bairro, bate-bola com meu pai na varanda, risadas na pracinha com minha irmã, o sabor gelado de um picolé no estádio de futebol e figurinhas nos álbuns do campeonato brasileiro. Era a infância em sua forma mais simples e poderosa: um tempo em que o mundo cabia na calçada da rua, nas mãos sujas de terra e na sensação de que tudo estava no lugar certo.

A ciência hoje confirma o que a memória já sabia: é na Primeira Infância — do nascimento aos seis anos — que se desenham as bases emocionais, mentais e sociais que nos acompanharão pelo resto da vida. Segundo o Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), cerca de 90% do desenvolvimento cerebral humano ocorre nesse período, influenciado pelo afeto, pelas experiências e pelo ambiente ao redor. Por isso, políticas voltadas à parentalidade ativa — com pais e cuidadores participando do cotidiano —, a proteção contra qualquer forma de violência, o acesso a serviços de saúde e educação de qualidade e o estímulo ao brincar são ações fundamentais para garantir adultos mais empáticos, saudáveis e preparados para o mundo.

Atento a essa importância, o Tribunal de Contas de Minas Gerais (TCEMG) tem se tornado um protagonista na defesa da Primeira Infância. A Corte lançou o portal “1, 2, 3 e Já”, que reúne dados, orientações e conteúdos técnicos para gestores públicos. Também promoveu o 2º Encontro Nacional de Primeira Infância (Enapi), reforçando o compromisso com políticas estruturantes.

“O Tribunal de Contas vai cobrar que todos os municípios e o Estado cumpram a legislação e aprovem as leis que criam os Planos da Primeira Infância”, anunciou o presidente Durval Ângelo durante o lançamento do site. A partir do próximo ano, o TCE pretende, ainda, exigir que os municípios enviem, mensalmente e em classificação específica, os gastos com políticas públicas destinadas a essa faixa etária.

Como parte das comemorações do Dia da Criança, o Tribunal lança agora a playlist “Infância” em seu canal no Youtube — uma série de dez vídeos curtos que revelam a realidade de meninos e meninas em situação de vulnerabilidade social em Belo Horizonte. A iniciativa convida a sociedade a olhar para o início da vida não como uma lembrança nostálgica, mas como um compromisso coletivo com o futuro. Porque o mundo pode ter mudado, mas cuidar das nossas crianças continua sendo a maneira mais eficaz de transformá-lo.


Lucas Borges – Coordenadoria de Imprensa