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Cultura jurídica voltada para o meio ambiente é tema de debate no encerramento do VI congresso internacional

07/10/2016

Ladeando o mediador Vinícius, os palestrantes Maraluce, Carlos Alberto, Gilmar e Carlos Eduardo (foto: Alda Clara)“Não temos uma cultura jurídica voltada para o meio ambiente”, afirmou a doutora e professora universitária Maraluce Maria Custódio, ao expor sobre o tema “a importância do conhecimento interdisciplinar nas decisões sobre sustentabilidade”, na tarde desta sexta-feira (07/10), durante o encerramento do VI Congresso Internacional de Direito e Sustentabilidade, realizado na sede do Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais – TCEMG. A professora defendeu um diálogo e interação mais efetivos e confiantes entre as áreas das ciências ambientais, o Direito ambiental e a sociedade, de forma a se alcançar o que, aparentemente, seria uma utopia: o desenvolvimento sustentável baseado na associação de meio-ambiente equilibrado e desenvolvimento econômico.

Citando o exemplo de uma empresa fabricante de bebidas que necessitava comprar água de uma abastecedora para resfriar as garrafas e encontrou uma alternativa sustentável de despoluir um rio próximo e utilizar a água para esse trabalho, a professora enfatizou que meio-ambiente e desenvolvimento econômico não são incompatíveis, como muitas vezes possa parecer. Maraluce também se posicionou a favor de incluir o estudo específico nas faculdades e na formação dos juízes, “tendo em vista a especialidade e complexidade da matéria”, ao falar sobre a inexistência de uma cultura jurídica própria para o meio ambiente. A proposta, aplaudida pelos palestrantes e congressistas, foi considerada “excelente” pelo mediador dos debates e juiz de direito de Contagem, Vinícius Miranda Gomes, por mostrar a necessidade da criação de varas especializadas dentro do Judiciário, principalmente por se tratar de uma ciência nova e pelo acúmulo de outros processos examinados em um Estado da dimensão de Minas Gerais.

A palestra da professora fez parte do painel intitulado “ODS –Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – e controle jurisdicional”, que também contou com outros três renomados palestrantes: o juiz federal e pós-doutor em Filosofia do Direito, Carlos Alberto Simões de Tomaz, no tema “governança e racionalidade moral”; o promotor de justiça do Ministério Público de MG, Gilmar de Assis, que falou do controle judicial e os objetivos do desenvolvimento sustentável na área da saúde; e o promotor de justiça e coordenador da área de defesa do meio ambiente do Estado de MG, Carlos Eduardo Ferreira Pinto, último palestrante da tarde, que adiou sua exposição prevista sobre “o Ministério Público e a proteção florestal”, a concessão de licenças e as agências reguladoras diante dos desafios do desenvolvimento sustentável, para aprofundar um pouco mais sobre as questões polêmicas levantadas pelos palestrantes anteriores.

Referindo-se ao rompimento da barragem em Mariana como “o maior desastre ambiental de nossa história”, Carlos Eduardo esclareceu uma série de questões sobre o tema, quanto à avaliação dos empreendimentos potencialmente provocadores de danos ao se promover o licenciamento, à necessidade de mudança e controle das políticas públicas, à falta de informação e dimensionamento do problema e às distorções dos fatos. Para o professor doutor Juarez Freitas, presidente do Instituto Brasileiro de Altos Estudos de Direito Público e coordenador científico do VI Congresso, “é preciso aprendermos lições das tragédias para que elas não se repitam”.

Agenda 2030 e manual para os tribunais

Promovido pelo Instituto Rui Barbosa – IRB, em parceria com o TCEMG e o Instituto Brasileiro de Altos Estudos de Direito Público, o congresso focalizou a incorporação definitiva do princípio constitucional da sustentabilidade no universo jurídico brasileiro. Refletir sobre “os objetivos do desenvolvimento sustentável – ODS, nos moldes da Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas – ONU, em sintonia com os desideratos da Constituição”, foi a proposta principal do VI Congresso. São 17 objetivos e 169 metas a serem atingidos até 2030, que foram abordados nos vários painéis, dentro do tema “Estado brasileiro e agenda 2030: os objetivos do desenvolvimento sustentável”.

Ao sintetizar os resultados concretos obtidos com o congresso internacional e o alto nível dos participantes, o coordenador Juarez Freitas anunciou que o presidente do TCEMG e do Instituto Rui Barbosa –IRB, conselheiro Sebastião Helvecio, já está “articulando a elaboração de um manual de contratações sustentáveis para os tribunais de contas do país”. Para Helvecio, o VI Congresso trouxe à discussão o “direito ao futuro” e “a sustentabilidade como instrumento de cidadania”.

Ainda no encerramento, os palestrantes e mediadores receberam a medalha Ulysses Guimarães, numa homenagem ao centenário do Constituinte, e a compilação dos trabalhos realizados no I Congresso Internacional de Controle Externo em 2015.