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Mineração e tragédia de Brumadinho: reflexões do Junho Verde TCEMG

17/06/2025

Jornalista e escritora Daniela Arbex contou a história da tragédia de Brumadinho - fotos: Thiago Rios Gomes
“Por que esses bombeiros, desde o primeiro dia, já sabendo que não haveria vidas a serem salvas, arriscaram a própria vida naquela zona quente? Acompanhando a operação dos bombeiros, eu entendi. Tão importante quanto salvar vidas, era salvar memórias”. A afirmação da jornalista e escritora Daniela Arbex, autora do livro “Arrastados: Os Bastidores do Rompimento da Barragem de Brumadinho”, balizou sua palestra que abriu, nesta terça-feira (17/06), o “Junho Verde TCEMG”, programação especial para inspirar atitudes conscientes no mês do Meio Ambiente.
 
A abertura do evento foi feita pelo presidente do Tribunal de Contas mineiro, Durval Ângelo, que fez um exercício de reflexão sobre a desigualdade no Brasil e no mundo. O presidente destacou a necessidade do resgate de conceitos como compaixão e empatia. “Que o Junho Verde TCEMG abra nossos horizontes e nos ajude a compreender essa realidade”, disse, concluindo com um elogio à escritora Daniela Arbex. “Sabe escrever de forma bonita sobre coisa triste, com empatia e compaixão, e com sentimento fundamentalmente humano”.
 
No painel temático “A Mineração e os Impactos Ambientais e Sociais”, Daniela Arbex contou sua trajetória de cobertura da tragédia do rompimento da Barragem de Brumadinho, em 2018, “o maior desastre humanitário do país”. Arbex chegou à cidade uma semana depois do rompimento. Após conversas iniciais com moradoras e moradores, ela entendeu que aquelas pessoas ainda não estavam prontas para falar sobre a tragédia. Voltou um ano depois.
 
A jornalista contou sobre sua passagem de quase um ano no IML de Belo Horizonte, “quando entendi, de fato, a real dimensão dessa tragédia. Uma das coisas que descobri foi que as vítimas da mancha de lama não poderiam ser reconhecidas pela cor da pele. Em função do arrastamento que sofreram, todas elas perderam a camada superior da pele, que dá a coloração aos corpos pretos e brancos”, disse, explicando que o nome do livro dela surgiu desse fato. Arbex ainda destacou a empatia dos legistas, que buscavam soluções “fora dos livros” para identificar as “joias de Brumadinho”.
 
Ela questionou, ainda, o modelo da mineração no Brasil, “que prioriza o negócio em detrimento à vida humana”. Ela lembrou que, em 2019, a legislação mineira prometia ser mais dura com a mineração, obrigando que, em três anos, as 54 barragens construídas à montante deveriam ser descaracterizadas. Porém, as mineradoras foram tendo inúmeras oportunidades de alteração de prazo. “Até hoje, apenas 19 foram descaracterizadas. As outras terão até 2035 para cumprir a lei. A pergunta que eu faço é: porque as mineradoras tiveram tantas oportunidades, já que as vítimas não tiveram nenhuma chance?”, indaga Daniela.
 
A jornalista encerrou sua palestra destacando que o desastre de Brumadinho é uma tragédia ainda em curso. “Não temos ideia do tempo para reparação da fauna e flora atingidas”, reforçando o desastre ambiental. Porém, ela ressalta que se trata, principalmente, de um desastre humanitário. “Após a tragédia de Brumadinho, o número de consumo de medicamentos controlados quase triplicou. Mais do que dobrou o número de tentativas de autoextermínio. Ninguém sabe, até hoje, quais serão as consequências para a saúde humana do contato com a lama tóxica”, ponderou. 
 
“Contar toda essa história é, mais do que tudo, uma recusa ao esquecimento. Porque, se uma história não é contada, é como se ela não tivesse existido”, encerrou, emocionada, Daniela Arbex. A palestra foi acompanhada por gestores, gestoras, servidores e servidoras da Casa, além da procuradora, Maria Cecília Borges, do Ministério Público de Contas.
 
Debate sobre a mineração
 
O segundo momento do “Junho Verde TCEMG” reuniu especialistas para debaterem sobre a realidade da mineração em Minas, mediada pelo assessor da presidência João Miguel. O capitão Lucas Pacheco, do Corpo de Bombeiro Militar de Minas Gerais, abriu o painel contando a história do rompimento da Barragem da Vale em Brumadinho pelo olhar da instituição. Ele fez um histórico, contou a cronologia, os primeiros passos, explicou a atuação diária ao longo dos meses e destacou a complexidade de todo o processo. 
 
Por fim, ele destacou o projeto “Bombeiros nas Escolas”, uma das boas práticas adotadas pela instituição após Brumadinho. “A esperança que nós temos é que a geração futura aprenda com nossos erros e exemplos e mude a cultura de gestão e convivência com o risco”.
 
O 2º sargento da Polícia Militar Ambiental, Nilson Gomes, explanou sobre os aspectos legais e históricos do Meio Ambiente. Ele apresentou conceitos de desenvolvimento sustentável, ampliando o complexo debate com a mineração. Já Marcelo Barbosa, dirigente do Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), fez um panorama da situação da mineração no Brasil a partir da visão da população diretamente atingida, debatendo problemas e apontando caminhos sustentáveis a serem seguidos.
 
Exposição
 
O “Junho Verde TCEMG” começou com a abertura da exposição Resíduos Urbanos, de Leo Piló, no Salão Mestre de Piranga. O descerramento da exposição foi feito ao lado do presidente Durval Ângelo. “Nós, artistas recicladores, fazemos coisas incríveis com materiais que poderiam estar nos aterros e lixões. É um reolhar sobre a natureza, de amor, proteção e poupança”, explicou Piló.
 
Proteção e oficinas
 
Encerrando as palestras do primeiro dia, o subsecretário de Proteção e Defesa Civil da capital, Waldir Vieira, falou sobre o sistema de proteção de Belo Horizonte. Ele mostrou conceitos gerais, expôs os principais riscos, falou sobre processos de mitigação e explicou os ciclos de ações da Defesa Civil. No estacionamento do Tribunal, oficinas práticas mostraram ações de monitoramento e alerta de riscos, abandono de veículo em casos de emergência e ancoragem/lançamento de corda em situações de risco.
 
As palestras e oficinas do Junho Verde TCEMG continuam nesta quarta-feira (18/06), Veja, aqui, a programação e, no link abaixo, as fotos.
 
 

Junho Verde TCEMG - Primeiro Dia