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Direito à assessoria técnica independente aos atingidos por barragens é tema de livro lançado hoje no TCEMG

12/08/2024

Foto de Daniele Aparecida Fernandes

Foi lançado na manhã de 12/8/2024, o livro Direito à assessoria técnica independente em Minas Gerais (2016-2023): entre consensos e dissenso, de Janaína Aparecida Julião, no Auditório da Escola de Contas, com a presença de diversas autoridades e convidados para um debate sobre o tema.

O vice-presidente do TCEMG, conselheiro Durval Ângelo, abriu a mesa, lendo o que escreveu a coorientadora de Janaína, professora Karine Gonçalves Carneiro, destacando que o tema é indispensável e atual e diz respeito à luta das pessoas atingidas pelos desastres minerários. Para Durval Ângelo, a autora, em sua atuação por justiça e direito, lado a lado nas diversas assessorias técnicas independentes (ATIs) em que trabalhou, conhece as injustiças cometidas contra as vítimas das tragédias. E disse que “antes de tudo, o que se está falando é do direito das vítimas.”

Lembrou que as mineradoras possuem um significativo corpo de assessoria técnica muito competente para defendê-las, onde todos são ouvidos, menos os atingidos. E disse que os tribunais de contas precisam incorporar esse fator novo, a nova função das ATIs, inclusive de assessoria técnica na área de engenharia para defender os direitos dos atingidos, em igualdade de condições.

Logo depois, a autora Janaína Aparecida Julião explicou que o livro, fruto de sua dissertação de mestrado, é resultado de sua análise dos acordos e decisões judiciais (Brumadinho, Mariana, Conceição do Mato Dentro, Itatiaiuçu, Itabira, Macacos), no período de 2016 a 2023. Conforme Janaína, as pessoas atingidas pelos grandes desastres-crimes esperavam receber pelas perdas que tiveram. As mineradoras divulgam em propagandas que “está tudo bem”, o que não é verdade. Os acordos judiciais não levam em conta as vítimas, não têm a participação dessas pessoas. Para Janaína, as ATIs devem funcionar como paridade de armas dos atingidos contra as empresas mineradoras na defesa de seus interesses, produzindo provas, matriz de danos, dando-lhes possibilidade de acessar seus direitos fundamentais. “As vítimas precisam ser informadas sobre seus direitos procedimentais ambientais, sobre os planos de reparação”, disse ela.

Em seguida, a ministra substituta do Superior Tribunal Superior Eleitoral, Edilene Lobo, lembrou que a obra é por justiça, justiça essa que não envolve o Poder, mas “um pacto para salvar vidas”. O livro é um resgate às consultorias jurídicas públicas como direito à cidadania, no assessoramento às pessoas mais vulneráveis, tão debatido na Constituinte, disse a ministra. E enalteceu a autora, mulher e pesquisadora, dedicada a um tema tão importante para construir soluções para os atingidos de barragens.

A professora de Ciências Sociais da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP), Karine Carneiro, que prefaciou o livro e foi coorientadora de Janaína, disse que as ATIs são um marco na problematização sobre os danos produzidos pela atividade minerária e defendeu como prioridade a regulamentação das ATIs, que são altamente combatidas pelas mineradoras e deslegitimadas pelo Poder Público e pela Justiça que não bancam as ATIs e cedem à pressão do poder econômico. E disse também que o livro é tão importante porque “o processo de desastre é contínuo e inerente à atividade mineradora”.

Marília Fontes, do Núcleo de Assessoria às Comunidades Atingidas por Barragens (Nacab) destacou que as ATIs, apesar de ser algo novo, são o contraponto, a resistência, a construção do conhecimento, a organização e a mobilização das vítimas de desastres. Segundo ela, as “ATIs são um direito que está em campo impulsionando outros direitos”.

Paula Constante, que atua na ATI do Paraopeba, lembrou: “as pessoas têm que ser contra os acordos judiciais e a forma que têm sido feitos, que repactuam, redesenham a supressão de direitos dos atingidos e reafirmam a necessidade da atividade minerária em Minas Gerais”.

Afonso Henrique de Miranda Teixeira, procurador de Justiça e coordenador do Centro Apoio Operacional de Conflitos Agrários, disse que o TCEMG ganhou em trazer esse tema para discussão e que o livro traz possibilidade de reflexões no campo jurídico sobre decisões atinentes à mineração, que são injustas. Disse ainda que o Estado brasileiro precisa entregar justiça frente à atividade minerária, que “é predatória, uma máquina de destruição das pessoas, das vidas, da dignidade das pessoas.”

O conselheiro Durval Ângelo encerrou o debate e advertiu que na sua gestão serão feitas auditorias em terras devolutas em Minas Gerais e leu os versos de Mário Quintana: “Se as coisas são inatingíveis... ora! Não é motivo para querê-las... que tristes os caminhos, se não fora a presença distante das estrelas!” (Utopias).

 

Regina Kelles | Coordenadoria de Jornalismo e Redação

Lançamento do livro "O Direito à assessoria técnica independente em Minas Gerais" da autora Janaína Julião