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Direitos Fundamentais e Controle de Políticas Públicas são discutidos em Congresso Internacional no TCEMG

27/11/2024

Política pública como consubstanciação da cidadania é discutida em congresso internacional no TCEMG                                          Créditos: Daniele Fernandes

Com a palestra: “Carta Magna dos contribuintes”, o professor titular da USP, Fernando Facury Scaff, abriu os trabalhos, nessa terça-feira (26/11), em continuidade ao III Congresso Internacional de Direito Financeiro e Cidadania”. A mesa foi presidida pelo conselheiro do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, Ricardo Torres.

Partindo da premissa de que não há como falar em direitos fundamentais sem a participação popular, o professor Scaff remontou à revolução francesa, que consagrou os direitos fundamentais, contrapondo-se, à época, ao estado absoluto.  Scaff chamou a atenção para a atuação dos Tribunais de Contas na efetivação dos direitos fundamentais e na implementação de princípios constitucionais como simplicidade, transparência, cooperação e defesa do meio ambiente. Para o palestrante, as Cortes de Contas são partícipes, cooperativos para a efetivação desses direitos. Sendo o direito tributário defensor da propriedade privada, esclarece o professor que os TCES entram como guardiões da boa administração fiscal, que vai além de um olhar tão somente para a despesa, mas também para a destinação dos recursos. Para o professor, é atribuição relevante das Cortes de Contas, como guardiãs da boa administração do dinheiro público, aferir se esses princípios – tendo citado como exemplo o meio ambiente – estão sendo de fato beneficiados com os recursos do fisco.

Controle de políticas públicas foi a temática debatida, em seguida, no painel 3, presidido pela conselheira do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo e vice-presidente do Instituto Rui Barbosa, Cristiana de Castro Moraes, com a participação do conselheiro corregedor do TCE do Ceará e presidente do Instituto Rui Barbosa, Edilberto Pontes; do professor titular da Faculdade de Direito de São Paulo (Fadisp), Francisco Pedro Jucá; e do conselheiro aposentado do TCEMG, Cláudio Couto Terrão.

Cristiana Moraes conduziu os trabalhos, tendo lembrado aos presentes que o evento tem o objetivo de também instigar os participantes a buscar o conhecimento, a se investir na busca por mais estudos, diante da complexidade das atuais demandas. Considerou a Constituição da República de 1988 a responsável por uma ampliação de direitos e da atuação dos Tribunais de Contas, tendo enfatizado o papel das auditorias operacionais para a efetivação das políticas públicas. Para a conselheira, mais importante que verificar se foram aplicados os 15% constitucionais na Saúde ou os 25% na educação, é aferir se os recursos foram aplicados na merenda escolar, no transporte, garantindo de fato ensino de qualidade.

A vice-presidente foi seguida pelo corregedor Edilberto Pontes, que falou da Avaliação de Políticas Públicas no Brasilavanços e desafios. Pontes afirmou que apesar de o Brasil gastar mais de 45% do Produto Interno Bruto (PIB) na implementação de políticas públicas, há uma grande insatisfação por parte da sociedade, sendo os indicadores de saúde e educação no Brasil muito ruins. O corregedor ressaltou a necessidade de avaliar o custo-benefício, ampliar o debate acerca do custo-efetividade antes de se implementar uma ideia nova. “É preciso redimensionarmos o curso das políticas públicas, priorizando a cidadania”, afirmou Pontes, que ainda acrescentou que, em países como Estados Unidos da América, Espanha, França e Portugal, só se fala em avaliação de políticas públicas. “Assim como a sociedade é coisa viva, as constituições também são coisas vivas”, garantiu o vice-presidente, que, por fim, defendeu que o governo deverá promover um engajamento de todo o aparato estatal para a efetivação das políticas públicas.

Na sequência, o professor Francisco Pedro Jucá, titular da Faculdade de Direito de São Paulo (Fadisp) falou de Políticas públicas – escolhas políticas e custos. Jucá iniciou sua palestra dizendo que tudo é escolha. Conceituou democracia como inclusão, oportunidade de participação no processo decisório, que redunda na substanciação da cidadania. Para o professor, o governo que não produz resultado perde legitimação política. Governar é diagnosticar demandas sociais e elaborar mecanismo de respostas dentro da “moldura constitucional”. “A escolha entra no processo político de eleição de prioridades, que deve ser marcado pelo imperativo constitucional, pelo traço da democracia e, sobretudo, pelo diálogo”, defendeu Jucá, que ainda explicou que tudo isso tem que ser adequado à capacidade contributiva da sociedade.

O conselheiro aposentado do TCEMG Cláudio Couto Terrão encerrou o painel, tendo falado de Política pública e o controle de efetividade. Terrão salientou que há no Brasil uma cultura de trabalhar aspectos formais, legais, citando a educação como exemplo. Segundo o conselheiro, mais importante que dados meramente formais, é saber se o aluno está saindo da escola realmente sabendo o que se ensinou lá. Para Cláudio Terrão, no Brasil, a visão que se tem de políticas públicas ainda é pragmática e que "não temos uma cultura de aferir resultados". Defende a necessidade do diálogo para efetivação das políticas públicas, porém alerta: “o diálogo é de persuasão, mas o controle não pode ser somente mais uma opinião”. Terrão ainda esclarece que os Tribunais de Contas têm que entrar nesse diálogo como uma voz qualificada, uma posição privilegiada, sendo inclusive capaz de rejeitar contas que não tenham alcançado resultados, e, por via de consequência, não atingiram o bem finalístico. 

 


Denise de Paula / Coordenadoria de Jornalismo e Redação