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Momento TCEMG estimula participação social em defesa de mineração mais responsável e sustentável

17/06/2025

Reunião de estreia do Momento TCE foi realizada na Sala Ágora, na sede do Tribunal de Contas - Foto: Daniele Fernandes

O Tribunal de Contas promoveu, nesta terça-feira (17/6), o 1º Momento TCEMG, com o tema Mineração. Com participação de diversos representantes da sociedade, a série de encontros vai discutir ações, fiscalizações e decisões em torno da pauta estratégica, mantendo o diálogo aberto por uma atividade minerária mais sustentável e responsável.

"O Tribunal não se presta a ouvir um setor só. A gente entende que, ao fazer uma interlocução como essa, deve ser envolvida a sociedade como um todo", afirmou o presidente do TCEMG, conselheiro Durval Ângelo, na abertura dos trabalhos.

Nesse sentido, participaram da reunião de estreia representantes da Associação de Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig), Ministério Público de Contas (MPC), Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável (Semad), Movimento pela Soberania Popular na Mineração (MAM), Associação Mineira de Municípios (AMM), Gerência Regional da Agência Nacional de Mineração no Estado de Minas Gerais (ANM-MG), Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam) e das Prefeituras de Itabira, Nova Lima, Rio Doce e Mariana.

Impactos da mineração

No primeiro momento, a equipe da Central de Fiscalização Integrada e Inteligência (Suricato/TCEMG) apresentou aos participantes o relatório "Saúde Pública e Mineração de Ferro: Uma análise comparativa no estado de Minas Gerais".

O estudo técnico, parte da iniciativa "Conhecer para Fiscalizar", reuniu dados e análises sobre os impactos da mineração e também quanto à utilização dos recursos da Compensação Financeira pela Exploração de Recursos Mineiras (CFEM) nos principais municípios mineradores de ferro e minério de ferro no estado.

O portal TCEMG, inclusive, divulgou série de matérias com desdobramentos desse relatório especial da Suricato, com recorte das questões de saúde, baixo investimento em meio ambiente e em defesa civil em cidades mineradoras. Clique nos links para conferir.

Legislação e jurisprudência

A equipe técnica do Tribunal também fez uma breve explanação sobre a legislação que rege a CFEM, além da jurisprudência, com exemplos de decisões e interpretações de lei já feitas por tribunais a esse respeito.

Um ponto importante, conforme definido na Constituição, é que a contrapartida financeira da exploração é dividida entre União, estados e municípios. E, justamente por isso, é estabelecida também uma competência comum aos três entes: supervisionar, fiscalizar e zelar pela correta aplicação das compensações.

A compreensão desse papel é importante, sobretudo, para enfrentar um dos problemas identificados por meio de um estudo do Tribunal de Contas da União (TCU): a sonegação da CFEM. No período de 2014 a 2021, o órgão federal identificou perda potencial entre R$ 9 bilhões e R$ 12 bilhões com o não recolhimento da compensação financeira.

Além disso, o TCU levantou que a Agência Nacional de Mineração (ANM) não tem estrutura adequada para fazer a fiscalização. São, atualmente, seis servidores para lidar com cerca de 40 mil processos de lavra e licenciamento. As informações foram repassadas ao longo do encontro.

"É importante insistir que o município também deve fiscalizar", destacou o presidente do TCEMG. "Já está em vigor em Minas Gerais, inclusive, a decisão deste Tribunal de que os municípios podem ser penalizados se não estiverem fazendo o seu trabalho de tributação e de fiscalização", reforçou Durval Ângelo.

Instrução normativa

Nesse sentido, o Tribunal de Contas mineiro tem uma proposta de uma instrução normativa, de iniciativa do conselheiro Licurgo Mourão, para apoiar os gestores municipais na fiscalização da compensação financeira da mineração.

Seria uma forma, conforme apresentado pela equipe técnica, de ajudar o jurisdicionado no acompanhamento dessa destinação da receita pública obtida pela CFEM, estabelecer auditorias e inspeções relacionadas, criar um painel eletrônico em tempo real para mostrar a arrecadação e a destinação, entre outras possibilidades.

"Essa visão moderna faz com que nós possamos trazer ao debate aqueles que são os responsáveis por fazer com que as políticas públicas de qualidade tenham efeitos e resultados à população", avaliou Licurgo Mourão, relator do ato normativo.

"Vamos nos concentrar, enquanto órgão de controle, naquilo que podemos resolver. Ajudar aquele prefeito que tem recursos arrecadados e que não sabe onde gastar, ou que não tem a segurança jurídica do que fazer com os recursos", exemplificou. "Nesse aspecto, fundamentalmente, consigo perceber algumas oportunidades de melhoria", completou.

No encerramento, o presidente do TCEMG, conselheiro Durval Ângelo, enfatizou que o grupo de trabalho, agora formado, vai continuar trabalhando e à disposição para novas intervenções.

"Está no esboço que esse recurso deve ser utilizado primordialmente para mitigação do dano ambiental e para a superação da minério-dependência. Mas, entre essas duas premissas, há um vácuo muito grande, que precisa ter uma orientação mais efetiva", ressaltou o conselheiro-presidente.

“A gente tem que conhecer para fiscalizar. É o slogan do nosso estudo, né? E nós colocamos um slogan geral dessa gestão que é transformar controle em resultados. Quer dizer, a gente tem que ter uma política de resultados que é o benefício para a sociedade, para a população. É isso que a gente quer - e entendemos que é isso que tem que ser feito", concluiu.

Depoimentos

O presidente da Associação dos Municípios Mineradores de Minas Gerais e do Brasil (Amig), Marco Antônio Lage, parabenizou o TCEMG pela iniciativa.

"Mais que o estudo, achei importantíssima essa mobilização em torno do tema. A mineração, no Brasil e em Minas, tem uma grande relevância econômica e social", disse Lage, que também é prefeito de Itabira. "É preciso que a sociedade se una em torno de uma mineração sustentável. A Presidência está de parabéns por lançar o olhar por outro prisma com relação às cidades mineradoras", acrescentou na reunião.

Na sequência, o biólogo e coordenador do Movimento dos Atingidos por Mineração (MAM), Luiz Paulo Siqueira, afirmou que é fundamental que sejam criados processos de governanças públicas e controle sobre os bens minerais.

"Quando a gente debate mineração, nós temos que debater o projeto do Brasil. E o que temos visto, há décadas, séculos, é uma lógica de mineração que não privilegia um pensamento de nação", observou o biólogo, que ainda elogiou o estudo realizado pela equipe do TCEMG e deixou como sugestão um desdobramento sobre alocação dos recursos.

Outro a se manifestar na mesa foi o prefeito de Mariana, Juliano Gonçalves. Ele mencionou que o levantamento do TCU sobre sonegação revelou, no município, que mais de R$ 500 milhões deixaram de ser recolhidos.

"E como a gente recebe? A quem recorrer? A gente fica refém das empresas, que demoram a enviar respostas", relatou. "Gostaríamos muito, presidente, de contar com o apoio do Tribunal de Contas, porque não é fácil lutar contra o lobby das mineradoras", disse o prefeito.

Confira galeria de fotos:

Mineração é tema do 1° Momento TCEMG